sábado, 7 de fevereiro de 2015

Cinza



 E o baile da vida irradia um frio tom de cinza, o amarelo solar começa sua jornada lutando por um espaço entre toda névoa densa que por sua vez age cheia de pudor e simetria criando sua membrana, ocultando o gritante desespero da luz.

Nem sempre foi assim, houve um tempo que esse amarelo ardia nas veias esperançosas, entoando lindas melodias, provocando arrepios instigantes, desintegrando obstáculos salientes, a força do cinza se tornava uma simples brincadeira , como atravessar uma rua deserta sem olhar para os lados.

Não se sabe ao certo em que momento o frio se tornou tão voraz, muito menos quando a pele se tornou tão pálida, tão pouco foi pré sentido a ausência da fome, o engradecimento dos olhos, o tempo trouxe uma lição sábia porém agressiva de humildade, o que ele não conseguiu trazer foi uma explicação.

A ausência do amarelo provocou o desaparecimento da vontade de simplesmente ser, a sombra assume, realizada, a casca que impede o surgimento dos sempre bem vindos feixes de luz.

Mas a memória ainda guarda uma arma secreta, uma arma tão forte que nenhum obstáculo escuro pode suportar, a lembrança do quanto o amarelo pode ser forte.

domingo, 2 de novembro de 2014

Monólogo Escuro



Não faço parte do seu controle, afinal o que me trás vai muito além da sua imaginação, você pode até procurar entender tecnicamente todo o motivo da minha existência, mas nunca vai entender a magia da minha aparição, porque quando eu chego provoco alívio, muitos só conseguem se sentir realmente vivo quando percebem a minha presença, o que parece meio pretensioso pois o meu oposto sempre foi sinônimo de alegria e esperança, sabe,  o sonho mágico em tom de amarelo, bléh! Shut up!

A real, é que eu sinto a energia que provoco, e isso me engrandece, o desejo, a bebida, a angústia, o vício, o sexo, o romance, a lua, uow! A lua! Ela é minha! Ela faz parte de mim! Minha luz, minha carta na manga, capaz de fazer todos pararem tudo nem que por um segundo, você olha, quem não olha?

Minha existência tem até trilha sonora, quando eu chego a música começa, os sorrisos desabrocham sem timidez, o vento soa mais alto, as luzes fazem desenhos surrealistas pela cidade, e quanta luz!! Não que eu tenha algo contra ela, mas é que sinto que minha beleza fica muito mais evidente na sua ausência... louco né? Dizem que cada pessoa tem sua estrela, mas eu tenho milhares delas, cada uma representa uma parde do que sou ou do que posso ser.

Mas nem tudo é um mar de rosas, o equilíbrio da vida promove a pior das compreensões que adquirimos sobre a vida, de que o bem e mal são energias do mesmo porte, e que ambas estão e sempre vão estar constantemente presentes; eu trago a dor, o medo, o arrependimento, a insônia, a agonia, a frustração; e isso me provoca uma dúvida eterna, se o amor que sentem por mim é tão grande, se muitos aguardam todos os dias ansiosamente pela minha chegada, se chegam até sentir tristeza  com a minha partida, porque eu então é que tenho que assumir a responsabilidade de ser a ponte de conexão entre o antigo e o novo? Não que eu tenha preconceito contra pessoas que procuram amadurecer e se renovar, mas quando essas pessoas mudam, elas só praticam essa mudança na minha ausência, porque quando eu chego é como se tudo tivesse voltado ao normal, ao antigo.

Mas não vou ficar aqui dramatizando lamúrias ao léu, afinal já são 5 da manhã e eu tenho que ir embora, passou rápido mas... é sempre assim né, eu acabo passando em um piscar de olhos  e nunca parece que foi tempo suficiente; meu nome? Noite.

Bira Senna

domingo, 18 de novembro de 2012

Renovando uma Alma...



Serena, era como poderia descrever a paz  reluzida pelos olhos que reproduzem a textura do mais doce mel, onde o medo é repelido pelo afago, onde a dor é condenada a sentença do prazer eterno.

A alvorada traz consigo a forte lembrança da justiça do tempo, os olhos fundos, vermelhos e pesados faziam  a composição explícita do desgosto em respirar, fazendo a palidez e a fumaça do cigarro passarem despercebidas pela concepção do limite, pois os sonhos que sempre chegam com suas doses homeopáticas de esperança já não tinham mais o seu lugar, pois a vontade de estar em paz com Deus já se demonstrava entregue ao desprazer do sentir.

O desencadear do acaso entorpece a mente com suas interrogações, assim como o sal úmido que escorria pelos braços, traçando seu caminho entre os pelos, fazia todas as sinapses perceptivas apontarem para o horizonte, e o azul infinito era o lembrete da parte bonita dos conflitos maranhosos que a vida me permite desfrutar.

Entre as esquinas e os não saberes, se encontra os convites mais instigatórios, assim pude ter a clareza dos leques opcionais, assim pude me reencontrar, mesmo sem ter a mínima ideia de quem sou, o caminho só, não é o desejo dos que buscam a liberdade, mas sim dos que buscam alguém para libertar.  

A voz que arrepia o pé do pescoço também pode dar o nó na garganta, o cheiro que gela a barriga e esquenta o peito pode consumir a mágoa, mas eu deixo o gosto do sal desse oceano lavar minha alma, para enfim levantar o meu queixo, olhar ao horizonte, sorrir novamente, e continuar andando.

Bira Senna
18/11/2012

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Frère...


A sorte é preciso tirar para ter?

Não ao lado de uma semente fértil do seu sangue, porque a força magnética que emana desses corpos apontam para a mesma fonte.

Pelos olhos dele se encontra toda a coragem que te falta, porque os poros do seu corpo estão inundados da mais pura adrenalina, o tremor dos seus ossos soão como um despertador á sua gana de ser alguém melhor; Em um mergulho ainda mais profundo eu encontro o bem verdadeiro, o amor perdido e a solidão mais silenciosa.

Não é por coincidência que tudo de ruim que está  presente, foge desesperadamente ao seu chegar, tão pouco pareceria loucura ao afirmar que sorrisos brotam de forma sublime ao primeiro contato olfativo do passivo-agressivo Malbec. Das suas cordas vocais se ouve esperança, dos seus pensamentos se absorve desafios, das suas definições se admira personalidade, das suas dedicações se entorpece persistência.

Do seu amor se ganha alguém para confiar a vida, do seu respeito se extrai o significado de ser um homem, da sua alegria grava-se as melhores memórias que nunca mais desaparecerão, do seu sermão maduro se aprende sobre ser humano.

Quando vem a mágoa, e as palavras ditas esfaqueiam a pele como lanças afiadas, toda a raiva que invade o momento se recolhe em um canto escuro ao notar a presença do medo de não tê-lo mais como um companheiro dessa vida, então logo são expulsos á amedrontadora força da nossa clareza racional, que coloca novamente em fronte de combate o nosso amor, nosso respeito e nossa confiança.

O acaso do destino tirou o compartilhamento do tempo de ser criança, mas deu de mão beijada a alegria do encontro, a oportunidade de unirmos nossas almas, juntarmos forças nesse mundo de cão e juntos finalmente alcançarmos um sentido a toda essa loucura que tanto gostamos, vida.

Yuri Rodrigues Sena, meu irmão, meu sangue, meu companheiro, meu amigo, meu filho, meu pai, o homem que mais respeito nesse mundo, dedico a você esse texto, de forma sincera, mas nem um pouco completa, pois a melhor parte de ter você como meu irmão é impossível ser convertido em palavras.

Bira Senna
05/11/12

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Felina


Sagaz, é como eu resumiria o olhar da felina.

Uma tela branca com pintas surrealistas ao realce cativo.
As feridas no peito se camuflam sob o bojo volumoso.
Não diferente da espessura da sua capsula de proteção composta com pitadas de arrogância que parece indestrutível, mas não sobrevive ao poder enigmático do seu doce e sincero sorriso.

Sabe sentir cada toque porque sabe do que sua carne é capaz.
Sabe conquistar o que deseja quando se mostra mulher, escondendo seus sintomas de menina.
As sombras do passado implodiram a ponte que costumava ligar amor e confiança.
Aprendeu a classificar as pessoas de forma egoísta para se sentir melhor, mas não vê que só procura defeitos para aflorar motivos a fuga do seu poder de se sentir normal.

Se perde e se encontra todos os dias em seus emaranhados comportamentais, seus pensamentos racionais colidindo contra sua pseudo-fraqueza: esperança emocional e deslumbre sentimental ao oposto.

Sonha com o dia em que tudo será um pouco mais justo, ou pelo menos o suficiente para levantar uma bandeira branca e deixar-se cair.
Acorda , e por alguns segundos consegue ver brilho sincero no reflexo da sua íris através do espelho, logo depois, faz sua expressão mais ensaiada de mulher forte e só à tira para ter alguns pensamentos antes de dormir.

Ela duvida da beleza da vida, mas sabe que é uma artista, sabe que desenha sorrisos em cores alegres, iluminando tudo e todos a sua volta, esperando o seu dia de ganhar um pouco de luz.

Bira Senna
02/10/2012

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sentir um FIM.


Não faz sentido a escuridão densa com suas bordas cinzentas em uma mente tão clara, assim como a sensação repugnante de algo que foi feito para ser bom; não reage de forma coerente e sempre contra-argumenta com a racionalidade, também não explica as alterações corpóreas que inibem o sono.

Repulsivamente contraindo as expressões faciais, umidificando a íris, provocando fugas nos pensamentos, que por sua vez se parecem objetos metálicos sendo atraídos com toda a força para um imã gigante denominado motivo.

Desconcerta luxúria, aflora egoísmo, apavora esperança, suicida sorriso, destorce interesse, devora energia, contrai abdome, inibe vontade, dilacera fascínio, expulsa apreço, semeia raiva, invoca frustração.

Goteia reconforto, evidencia dignidade, floresce maturidade, enobrece simplicidade, fortalece intelecto,   beija  criatividade, estende a mão para si  e prova que é só um novo começo para um velho fim.

Bira Senna
26/09/12 - 08:18 AM.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

FLARE


Gosto de sonhar, porque sempre tenho esse mar lindo em minha volta, que só aprendeu a me abraçar quando estou com os olhos fechados, que me faz lembrar de tudo que perdi, que me faz pensar na vontade de ter ficado um pouco mais, só pra saber se ficava em mim o que me faz tão bem, poderia até quem sabe ter medo de me perder, e não querer mais voltar, será que eu me satisfaria em ser assim?


Olho para trás, o que sou? porque sou? onde exatamente na minha história apareceu uma bifurcação de escolha? Me encontro agora gritando interrogações como um detento do tempo, paro pra pensar, porque tanta lucidez tão cedo? Posso então dizer que a vida embaralhou minhas idades, pois quando eu senti a clareza para falar sério, o mundo riu, e agora que aprendi a brincar e sentir, não há mais tempo.


Santa Paciência!

Por um outro ponto de vista, percebo que todo esse embaralho me tornou um Deus de mim mesmo, o Deus do sentir, e eu sinto muito, sinto mesmo; Aprendi a ler a vida de uma forma que não conseguiria transmitir em palavras, você pode duvidar se quiser perder seu tempo, pois eu afirmo com plena convicção que hoje eu leio gestos e intenções, e que simples palavras não me iludem mais, como poderiam me tocar se são apenas sons?

Eu vivo! eu ouço a gritaria, eu vejo a casa cheia, aprecio a noite, eu lembro da bebedeira; O que isso me torna? aprendi a iluminar vidas, aprendi a gostar disso, aprendi a sentir medo, a ficar medo, e então? um triste ser que ilumina tudo a sua volta mais que não consegue ver que é apenas um triste ser que ilumina tudo.

E a saudade? ahh...a saudade de voar leve, voar alto, de sentir o mundo girar como uma roda gigante, como? não preciso deixar explícito aqui o sentimento que promove tais sensações, respirar o cheiro, perder o chão, perder o ar, como nuvens no céu da boca, e o triste fim que me deixa sempre a mesma pergunta: "Juntos voltaremos a girar o mundo como uma roda gigante?"

Deixar ir embora, de todas as tarefas que a vida lhe cobra, creio que essa é uma das mais cruéis; Dizer: "boa viagem?" "mande mensagens pra mim" "lembre que a distância não existe, não exite! não persiste, não desiste!" "vai sim, com fé, aponta pra fé e rema" "se tem que ser, tem que ser do jeito que a gente sonhou?".

O tempo é versátil, flexível, bipolar; e se você se atrasar, ele pode voltar? não! como pode o tempo parar? e quando se perde, qual seria o passatempo? quem conseguiria esperar tanto? é preciso respeitar o tempo ao ponto de saber quando é a sua vez de doer.

O desejo de verter tudo para um só lugar, como dois em um mesmo jarro, como se eu pudesse unir todas as cores para criar uma só cor, são sim os pequenos detalhes que fazem uma vida fazer sentido, mas não existiriam sem a pessoa que vai estar ao teu lado, é necessário ter alguém pra te deixar são e salvo quando a vida te faz tropeçar e cair, é tudo um jogo, e eu aprendi desde criança que um jogo foi feito para diversão, mas sempre ficava triste quando perdia, será a vida então uma brincadeira? Essa resposta talvez possa ir mais além que a minha clareza permite, mas gosto de pensar que sim, pois quando tudo parece desabar em cima de mim, eu olho ao horizonte e contra-taco com um belo sorriso, feliz, tudo brincadeira.

Bira Senna.
20/09/2012

Esse texto é inspirado nas composições do álbum "Flare" da banda Baiana composta por grandes pensadores, músicos, poetas, filósofos, entre outros: "Scambo"